Em um marco histórico para o Tocantins, o cemitério Campo Santo do Bom Jardim, parte integrante da Comunidade Quilombola Rio Preto, no município de Lagoa do Tocantins, foi oficialmente homologado como sítio arqueológico histórico. A decisão, realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), após a atuação da Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais do Tocantins (Sepot), eleva essa área à condição de Patrimônio Cultural Brasileiro.
A gestora da Sepot, Narubia Werreria, destaca a importância desse reconhecimento: "É a valorização do patrimônio material e imaterial do Tocantins. Esse reconhecimento dá forças às nossas raízes quilombolas. Isso fortalece a comunidade. O Campo Santo do Bom Jardim simboliza o que é de maior, que é o nosso bem cultural, a nossa identidade, quem nós somos."
O arqueólogo do Iphan, Rômulo Macêdo Barreto de Negreiros, ressalta as características singulares que levaram ao reconhecimento do cemitério como sítio arqueológico: "Além de ser um local que faz referência à memória da comunidade quilombola do Rio Preto, o Campo Santo do Bom Jardim é excepcional no contexto dos cemitérios rurais do Tocantins. Ele apresenta uma variedade de tipos de lápides que, provavelmente, refletem as relações sociais dos quilombolas ao longo dos últimos cem anos."
O reconhecimento não apenas preserva a área, mas também abre portas para ações voltadas para a proteção e promoção desse patrimônio cultural. Qualquer dano causado ao cemitério, intencional ou não, será considerado crime ambiental, sujeito a penalidades conforme a Lei Federal nº 9605/1998.
Esse capítulo da história começou a ser desvendado quando a Sepot tomou conhecimento das ameaças enfrentadas pela Comunidade Quilombola do Rio Preto. Narubia Werreria e sua equipe atuaram incansavelmente para proteger o território e o povo da comunidade, resultando na descoberta do Campo Santo do Bom Jardim.
Lorayne Ferreira, especialista em georreferenciamento da Sepot, foi a primeira a testemunhar a importância desse local: "Quando vi a precisão dos jazigos com encaixes de pedra feitos à mão, parecia que eu estava em um museu. A precisão da arte que eles fizeram com carinho e respeito ao seu ente que faleceu, junto às datas cravadas nas lápides, foi fundamental."
A atuação da Sepot na proteção dos territórios quilombolas não se limita a este caso. Desde a sua criação, a secretaria tem buscado a regularização de diversos quilombos no estado, levantando dados sobre ameaças e trabalhando para implementar políticas públicas que garantam os direitos dessas comunidades.
O reconhecimento recente da Comunidade de Rio Preto, como quilombola, pela Fundação Cultural Palmares, em tempo recorde de três meses, é mais um exemplo do compromisso do Tocantins com essas comunidades. Além disso, o diálogo com o Ministério da Igualdade Racial para adesão ao Programa Nacional de Gestão Territorial Ambiental Quilombola (PNGTAQ) demonstra o empenho do estado em apoiar os territórios quilombolas.
A homologação do Campo Santo do Bom Jardim como sítio arqueológico histórico não apenas preserva o passado, mas também fortalece o presente e o futuro da Comunidade Quilombola Rio Preto, garantindo o respeito e a proteção de sua identidade e patrimônio cultural. Este é um testemunho vivo do compromisso do Tocantins com suas raízes e tradições.