O hábito de fumar é uma questão de saúde globalmente preocupante. No Brasil, cerca de dez por cento da população é composta por fumantes, um número alarmante que exige atenção. Mas há um aspecto intrigante nessa luta contra o tabagismo: a influência do álcool sobre o desejo de fumar. Será que beber estimula o fumante a acender um cigarro? Especialistas afirmam que sim, e embora exista uma explicação química para essa relação, parte desse desejo é construído sobre o que podemos chamar de "ilusão".
A cardiologista Jaqueline Scholz, diretora do Programa de Tratamento de Tabagismo do Hospital Encore, esclarece essa aparente conexão. "Essa é uma sensação que existe, mas é uma ilusão, uma fantasia. É possível contornar. O paciente acaba associando as sensações de prazer com algumas situações da vida: como fumar enquanto consome bebida alcoólica, fumar no intervalo do trabalho, depois do almoço, enquanto está dirigindo, depois de tomar café e etc."
Basicamente, os especialistas explicam que existem duas razões principais pelas quais o consumo de uma droga pode aumentar o desejo pela outra. A primeira é o que chamamos de "hábito associativo", no qual o fumante cria uma conexão entre o tabaco e o álcool. A segunda razão é de natureza química, já que o álcool potencializa a metabolização da nicotina.
Felipe Ornell, pesquisador do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas De Porto Alegre, aprofunda nossa compreensão: "Existe a explicação de associação de estímulos, onde sinais ligados ao uso de uma droga podem desencadear o desejo pela outra, especialmente se ambas foram consumidas simultaneamente em situações semelhantes no passado. Além disso, o álcool e a nicotina potencializam os efeitos reforçadores um do outro."
Entretanto, a relação entre álcool e tabagismo não se limita apenas a um desejo compartilhado. O álcool pode se tornar um obstáculo significativo para aqueles que buscam deixar de fumar. Ornell adverte: "O álcool pode dificultar a tentativa de parar de fumar, aumentando a vontade e tornando mais complicado resistir ao desejo de fumar. Isso é especialmente importante para quem está em processo de abstinência, interrompendo o consumo. É conhecido que o álcool interfere em processos psicológicos fundamentais, afetando o julgamento crítico e a capacidade de controlar impulsos."
Portanto, a relação entre álcool e tabagismo é complexa e multifacetada. Embora a química possa explicar parte dessa conexão, a influência do hábito e dos estímulos é igualmente importante. Para aqueles que buscam superar o vício do tabagismo, é fundamental estar ciente desses fatores e buscar apoio adequado. A compreensão desses aspectos pode ser a chave para uma vida livre de cigarros e álcool, resultando em uma saúde melhor e uma qualidade de vida aprimorada.